quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Cajuzinho


Numa tarde de inverno de uma cidade do sul de minas, ele passeava a tomar sol pela praça quando a viu pela primeira vez. Ela era jovem. Mais jovem que ele que não era assim tão velho, porém já estava ficando meio “passado”. A família, pela intimidade insinuava: “vai ficar para titio”. Solteirão convicto. Viu em seu interesse por ela a oportunidade de se livrar das implicâncias.
Àquela garota mexeu com ele. Como mexeu! Nos dias que se seguiram ele andava pelas ruas a procurá-la. Sondava de olhos abertos para todos os cantos a fim de avistá-la. Algumas trocas de olhares deram para ele esperança. Resolveu então melhorar o visual. Regiminho, roupas novas. Tudo para conquistar a amada. Ainda faltava algo! De olhos para o espelho se deu conta dos fios de cabelos brancos que o acompanhavam delatando os anos já percorridos. “Darei um jeito nisso”, pensou ele. Marcou horário em um salão de beleza.
Tardezinha, quase noite, pouco movimento! Na opinião dele! Espreita para cá, para lá e adentra o estabelecimento que renovaria literalmente seu visual. Explica mais ou menos a situação para a cabeleireira que dá inicio ao processo. Pinta aqui pinta ali, as madeixa vão vendo logo o resultado do tratamento. Cabelos mais escuros! Para uma secagem mais rápida da tinta a profissional o coloca no secador. Aqueles enormes em que se senta embaixo deles e sua cabeça é enfiada dentro, geralmente coloridos.
Ele pega um jornal, o dispõe sobre as pernas e o lê distraidamente quando de repente! A garota dos seus sonhos, a do motivo de tudo, entra no salão! Em pânico ele cobre o rosto com o jornal. E ela a conversar com a atendente não saía de lá por nada deste mundo. O horário dele venceu, a cabeleireira que o atendia verificou e disse: “está na hora, vamos tirar”? Ele, desesperado, com medo de se revelar, pedia, sem sequer explicar o motivo: “só mais um pouquinho”. E ela: “não dá, seu cabelo vai ficar vermelho”. Ele insistiu: “por favor”. Não entendendo a causa a cabeleireira esperou, mas logo voltou a falar: “vamos lavar”. Ele não arredava pé e a sua paquera também não! O tempo foi passando a garota não ia embora e os cabelos dele só mudando de cor! Por trás do jornal ele permanecia, só de soslaio, a espera de a paquera ir-se em direção a porta da rua. Nada! A comoção virou geral entre as funcionárias. Rir ou chorar?! Situação difícil. E sem entenderem nada!
Coisa de 40 minutos após o tempo regulamentar a garota sai em direção à rua. As cabeleireiras desconfiadas correm em socorro dele, tiram-no do secador e constatam olhando umas para as outras. Dão a notícia a ele: “seus cabelos estão completamente vermelhos”! De novo! Rir ou chorar! No arruma aqui, corta ali. Resultado! Cabelos cor de caju. Sem acordo. O melhor foi feito. Talvez raspar careca! Ele se negou!
Apelidado “cajuzinho” pelos amigos. Esperou que o tempo o acudisse. Demorou muito! A garota? Ele fugiu tanto dela que esfriou! Acabou o que nem começara. Ele pusera fim ao relacionamento que tinha pretensão de acontecer.