quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O Andarilho


Noite fria. Um vento constante teimava seu objeto aquecedor tirar. “Droga”, blasfemava. E o jornal que o cobria não parava no lugar.
Era uma farmácia. Marquise. Lá em baixo estava a morar. Todas as noites se aconchegar. Não tinha outro lugar. Família? Nem sabia onde buscar.
De dia, andava a perambular, outras, mesma cidade. Andarilho, mendigo. Todos riam ao olhar. Bêbado, palavras sem sentido, vivia a gritar.
Maltrapilho, restos de comida, sujo, sempre a vagar. Bolsa, caneca a tira colo, roupas sobrepostas. Suas tralhas, seus pertences. O que tinha estava lá.
Capital. Perto de uma Universidade foi parar. Ouvindo estudantes a conversar, palpite foi dar. Assustados os alunos quiseram disfarçar. Pra espanto e surpresa o doido sabia falar. Descobriram um mestre, um professor perdido de seu lar. Sua história quis contar.
Capaz, inteligente, poliglota, rico. Ausente. Negligenciada a esposa o foi abandonar. Amante. Desesperado, com sua filha quis ficar, mas um acidente fatal, ela, veio a lhe tirar.
Desiludido, amargurado, com a própria vida quis acabar, suicidar. Sem sucesso não foi mais trabalhar. Largou tudo. Mente confusa, desmemoriado, álcool. Alto defesa para se consolar.
Comovidos, os alunos quiseram cooperar. Anos fugindo de si mesmo, o medo veio lhe assustar. Vendo a dedicação, atenção, à sociedade aceitou reintegrar.
Reorganizou a cabeça, e aulas voltou a dar. Agradecido, aos rapazes ajudou a formar.
Restabelecido, condescendente, sua casa antiga aos necessitados foi doar. Abrigo. Por experiência, se prometeu a fome e abandono nunca mais presenciar.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

No mundo das Nuvens


Tarde ensolarada, descansava na grama de meu jardim. Percebi nuvens se movimentando no céu. Deitei. De frente para elas, houve comunicação. Desenhos, figuras, letras, constataram esse elo. “Seria pra mim?” Pensei, “só podia ser, só estávamos nós”, uma infinidade azul com manchas brancas se mexendo, se transformando a cada instante, e eu.
Animais, rostos, palavras. Tudo em simbiose com meus pensamentos. De repente, uma fruta. “Será que estou com fome?” De novo. “Vem de mim, de dentro de mim? Ou elas contatando?”. Só sei que era maravilhosa aquela transmissão de mente e imagens.
Ficamos muito tempo ali. A escuridão já queria se fazer. Conversamos, trocamos idéia. Viajei, imaginei. Exigi. Foi sem querer! Tarde demais! Pedi perdão. Só quis viver no mundo das nuvens. Sem tristeza, sem sofrimento.
“Fuga”. Ela disse, “seu mundo é aí, real, os sonhos devem ser realizados nele, não fora”.
Em sinal de zanga, se juntaram, ficaram escuras. Caiu uma tempestade. “Meus sonhos foram por água abaixo”, pensei. Então entendi, elas caíram e se juntaram a mim.
Deliciei-me, me molhei. Compreendi. Os sonhos não se vão, são transformados em realidade.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Marcas do Tempo


Por volta dos 25 anos começam aparecer. Cedo. Finas. Vão se instalando. Em paralelo. Linhas. Logo abaixo dos olhos, rugas. É nossa pele se deteriorando.
Vem devagar, uma aqui, outra ali. Dos dois lados, igualmente distribuídas, sem pedir licença, para o desespero de todos.
Rosto, pescoço, mãos e finalmente o resto do corpo. É a beleza e a juventude ficando para traz, dando lugar à maturidade, a sabedoria que só o tempo percorrido nos dá.
Quando jovens, somos fúteis, materialistas. Pensamos ser, ter a fonte. Mas elas vêm. Como se dissessem: “o relógio não para. O tempo passou”. “Não vou mais olhar no espelho”, muitos dizem. Não adianta está na cara, não no reflexo. Segui conosco, anda conosco. Lembrança.
Umas tentam driblar, esconder. Plástica. Também não adianta, é só pele, físico. Os anos não são tirados com bisturis.
Deixem-nas, que nos acompanhem. É “sinal” de vida. Estão em paralelo sim, mas acompanhando nossa história. Afinal começamos a envelhecer no dia em que nascemos. Não com elas. Apenas fazem parte das marcas do tempo vivido, explorado por nós. Quem não as tem é por que já se foi.
Vamos cumprir nossa missão e viver cada momento escrito por elas.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

África dos meus Sonhos

Continente exuberante. De grandes civilizações. Inteligentes, desenvolvidos. Egito. Faraós, Cleópatra. Rio Nilo, rio abundante. Desertos, Saara. Beleza, oásis. Montes grandiosos. De monumentos, antiguidades magníficas. Enorme.
Com fauna exclusiva, savanas, flora primitiva. Solo rico. Hoje, povo pobre. Rico em etnias com má distribuição, pouca exploração. Guerras, conflitos, fome, doenças.
Como nos desertos. Calor de dia, frio à noite. Hoje diferente. Muitos países. Saturação. Excesso de população.
Um dia na escravidão, vendidos a revelia, povo bonito, forte, maioria negra. Mandela. Nomes que procuraram solução.
Mas miséria, desolação, devastação, toma conta dessa imensidão. Mulheres enfeitadas por cima da pele, sofridas pela má situação. Crianças morrendo de inanição.
Andam de um lado a outro. Migração. Nômades à procura de uma razão. Muçulmanos, cristãos. À espera de salvação.
Quizera Deus que voltasse a potência de outrora. Se fazer valer da grandeza de ser chamada: “África, o berço da humanidade”.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Coração

A organização física de um corpo, seja racional ou irracional, é formada por vários órgãos, sendo que: o coração é o mais importante deles nesta compleição por ser responsável pelo bombeamento do sangue que por sua vez é jogado nas veias e artérias obrigando o sangue a irrigar toda a constituição desse corpo. O que chamamos batimento cardíaco, pulsação.
Somos munidos desses órgãos para que eles nos proporcionem uma vida com mais qualidade; inclusive alguns deles são duplos, na falta do par o impar dá condição de vida.
Portanto por ser o coração o centro motor da circulação sanguínea e único, é digno de estima e consideração, se ele pára, nós paramos! Sendo assim essencial á existência de qualquer ser.
Quantas coisas pode-se dizer desse que é do formato do amor, ele merece mesmo nosso apreço! Além de tudo que já foi dito quero falar agora dos desfrutadores racionais que o detém de uma forma mais significativa, especial, única; os humanos.
Nós, humanos, temos uma relação íntima com o nosso coração. Ele é a sede moral de nossos sentimentos; para nós; onde moram paixões, afetos, amor! Centro de onde expressamos alegrias; euforia, tristezas; aí ele se parte! Quando estamos felizes ele bate mais forte anunciando o contentamento, quando sofremos, ele dói, aperta. Símbolo dos relacionamentos afetivos com o próximo e de adoração a Deus.
Às vezes parece que ele quer pular para fora do peito nos avisando de perigo, mas na calma adormeci conosco em sinal de solidariedade e amizade por cuidarmos dele e o deixarmos habitar o nosso corpo, aí descansamos juntos até que o dia amanheça, mas ele sempre compassado, nunca dorme de todo, alerta para desfrutarmos, como parceiros, de uma vida que tem seu tempo sua hora. Procuremos nos fartar mais de sons em valsa para que vivamos até quando Deus quiser, até que for chegada a vez dele de parar e assim nos entregarmos ao plano superior e não necessitarmos mais de contar batimentos.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Enchentes

O sistema é perfeito; a água sobe e desce, mas com o calor há mais evaporação, as partículas se unem lá nos céus transformando-se em nuvens que carregadas caem de novo em terra, irrigando plantações, enchendo de novo os rios para que não nos falte água, indispensável a qualquer ser vivente; é um ciclo que em convivência com outras ações da natureza nos permite viver em harmonia.
Pois é, é assim que tem que ser ou, pelo menos deveria ser, mas a ação do homem está indo de encontro com essa natureza que foi feita para nos servir, mas que tem sua potencia e deve ser respeitada. Aquecimento global, o famoso “Efeito Estufa”, o próprio asfalto que impede a terra de fazer seu trabalho, um dos que lhe foi designada, sugar o excesso de água no ciclo; desmatamentos, faces inclinadas de montanhas, criadas por construções de estradas, rodovias e até para expansão de cidades, e aí o pior deles, moradores que se instalam em ribanceiras por falta de opção de moradia e de assistência governamentais.
Culpa? Não ninguém falou em culpa, mas esse é um filme que se repete todos os anos na estação das chuvas; vai chegando novembro, dezembro, enfim o começo do verão e aí parece que não temos imaginação, é no Rio de Janeiro, em São Paulo; enchentes, pessoas morrendo, casas desmoronando; será que está sendo feito o possível para melhorar, sanar essa situação? Na verdade se tiver sendo feito, não está sendo o suficiente!
Novembro de 2008, um estado, considerado um dos mais prósperos do Brasil, Santa Catarina vê suas cidades inundadas por chuvas torrenciais, tempestades sem aviso prévio, e o caos está formado, 49 cidades devastadas, rios que transbordaram; casas que vieram abaixo; perdeu-se tudo, perdeu-se vidas. Um conjunto de fatores naturais e provocados pelo homem levou à calamidade pública, várias cidades de um estado que já conhecia as águas, mas não tão intensas como essas agora derramadas em seus filhos. Ouviu-se lamentos e pedidos de socorro, ouve-se choro dos que ficaram para presenciar a tristeza que se instalou e que lhes ceifou pela raiz, literalmente o chão lhes sumiu! A comoção é geral, todos querem ajudar, querem amenizar tal sofrimento. Rios de água que tentam descer em direção ao mar, sem conseguir, formam rios de lama, encharcando de lodo tudo que encontra ela frente; não respeitando casas, comercio ou se quer vidas, arrastando, afogando como quem diz, “está tudo errado”!
“Onde estão meus pertences! Onde está minha família!” É; estão desabrigados, muitos perderam tudo, outros quase tudo, o Brasil, solidário, ajuda, se comove; país grande, de gente grande, mas, com a natureza não se brinca; nada de terreno argiloso, encostas, nossas bases têm que ser firmes; deixem as chuvas caírem, mas sem nos atormentar, e, deixemos o progresso vir, mas a nosso favor!