Noite fria. Um vento constante teimava seu objeto aquecedor tirar. “Droga”, blasfemava. E o jornal que o cobria não parava no lugar.
Era uma farmácia. Marquise. Lá em baixo estava a morar. Todas as noites se aconchegar. Não tinha outro lugar. Família? Nem sabia onde buscar.
De dia, andava a perambular, outras, mesma cidade. Andarilho, mendigo. Todos riam ao olhar. Bêbado, palavras sem sentido, vivia a gritar.
Maltrapilho, restos de comida, sujo, sempre a vagar. Bolsa, caneca a tira colo, roupas sobrepostas. Suas tralhas, seus pertences. O que tinha estava lá.
Capital. Perto de uma Universidade foi parar. Ouvindo estudantes a conversar, palpite foi dar. Assustados os alunos quiseram disfarçar. Pra espanto e surpresa o doido sabia falar. Descobriram um mestre, um professor perdido de seu lar. Sua história quis contar.
Capaz, inteligente, poliglota, rico. Ausente. Negligenciada a esposa o foi abandonar. Amante. Desesperado, com sua filha quis ficar, mas um acidente fatal, ela, veio a lhe tirar.
Desiludido, amargurado, com a própria vida quis acabar, suicidar. Sem sucesso não foi mais trabalhar. Largou tudo. Mente confusa, desmemoriado, álcool. Alto defesa para se consolar.
Comovidos, os alunos quiseram cooperar. Anos fugindo de si mesmo, o medo veio lhe assustar. Vendo a dedicação, atenção, à sociedade aceitou reintegrar.
Reorganizou a cabeça, e aulas voltou a dar. Agradecido, aos rapazes ajudou a formar.
Restabelecido, condescendente, sua casa antiga aos necessitados foi doar. Abrigo. Por experiência, se prometeu a fome e abandono nunca mais presenciar.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
O Andarilho
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