segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Abstinência


As noites eram longas. Intermináveis! Não conseguia dormir! Logo no primeiro dia meu metabolismo sentiu a falta da ingestão de algo tão constante em seu dia a dia.
No segundo dia, inserido a esse sintoma, a falta de saciedade! “As refeições estão incompletas”! Avisava meu estômago. Eu que sempre me gabei, “meu estomago fala comigo”! Nesses dias, ainda mais! Tivemos longas conversas, bem, quase discussões! Ficou iminente um atrito entre nós.
No terceiro dia os efeitos colaterais aumentaram ainda mais. Notei que a ingestão de líquido, que nos dias sem abstinência eram constantes. Estavam raras. Tenho na água uma aliada, uma amiga acima de tudo. Sempre nos demos muito bem. Mantemos contato muitas vezes ao dia. Por hora! Estávamos meio afastadas digamos assim! A sede não me procurava como de costume, nem a necessidade me envolvia além do mais.
Na seqüência então, fui tomando para mim as reações e conheci, pelo menos um pouquinho, do que é se abster de alguma coisa que se torna parte de nós, seja lícita, ilícita ou apenas por um gosto ou paixão.
Os dias foram seguindo adiante, meu estômago já não falava, gritava, por vezes se desesperava. Senti fraqueza, tontura. Respostas metabólicas pela hipoglicemia que chegava a me fazer querer afugentar, abortar, interromper a continuidade daquela experiência. Não cedi!
Já nos finalmente. Cãibras, vontades, as continências de prazeres me assolavam. Estava em crise!
Eu me pegava me contorcendo de dor a qualquer hora e lugar sem saber ao certo o que significava e sem entender tal dor. Contrações espasmódicas dos músculos! Mas, eu não tinha autorização. Porque foi isso que dei a mim mesma. Ordens expressas de não repor ao meu organismo o produto alimentar, contrariando meu próprio querer, enquanto não se cumprisse o prazo determinado de abstenção.
Prefixei 7 dias. Cumprido! Me abstive por todos esses dias e noites de uma paixão incontrolável , o que me proporcionou refletir, aprender, entender coisas que jamais conseguiria alcançar sem tal propósito. É, foi um propósito que dediquei a cumprir por motivos particulares. Pude chegar perto ou tão somente vislumbrar o que passam pessoas viciadas, reféns de produtos destrutivos, avassaladores delas mesmas e que não abandonam por numerosos motivos e questões não mencionadas aqui, porquanto precisam de socorro. No meu caso nem é tão maléfico assim. Produto de sabor doce! Açúcar e tudo, tudo relacionado a esse que chamo de “o que adoça a vida”! Todo e qualquer derivado dele, eu os tinha a mão e sem hesitar, não neguei meu voto!
Eu venci! Sofri, chorei. Desejei degustar cada porção já deliciada por mim outrora. Suportei até o último segundo! Você me pergunta. “Por que”? Eu te respondo. “Foi uma prova de amor”!

sábado, 14 de janeiro de 2012

Prato Feito


A festa era de 50 anos de um cunhado. Outra cidade. Ela chegou cedo. No salão apenas algumas pessoas. Umas conhecidas, outras não. Logo que adentrou o recinto cumprimentou meio que no geral, deu uma olhada, chamou a sobrinha e disse, “isso aqui está parecendo restaurante PF! Vamos arrumar tudo direito antes que o aniversariante e o resto da família cheguem.
Começou com os comentários, “meu Deus, guardanapo de papel e dentro do copo, prato de boca para baixo, talheres na posição errada! Está tudo fora do lugar”!
Com um sinal com as mãos já foi ordenando, “você, pegue um vazo de flor, coloque naquela mesa separada com o bolo. E você, separe as mesas e arrume direito os talheres. Copo na frente da faca, garfos pelo lado de fora. Colher de sobremesa com a pá virada para a esquerda e na parte de cima do prato que deverá estar virado para cima”. Foi colocando todos para ajudar a arrumar o local. “Não, as toalhas são assim! Os pratos mais perto da beirada. Fecha aquela janela e a cortina, agora abre aquela” Foi até a mesa do bolo, fez uns enfeites com os guardanapos. Posicionou os pratos de sobremesa e as taças de champanhe. E todos a obedecê-la como a um mestre de cerimônia. A sobrinha só olhando sem nenhuma reação.
Ao final de toda a arrumação, ela pára, olha e se gaba dizendo, “pronto, não ficou lindo, bem melhor não é”? Agradeceu a colaboração de todos batendo palmas com um “ehheheheh”.
Tudo pronto! Nada tinha sido combinado! A sobrinha a pega pelo braço, leva até um canto e diz, “está vendo aquelas 3 moças ali que te ajudaram”? “Sim”, responde ela. A sombrinha continua, “pois bem, elas são do bufê que foi contratado para servir o almoço. Elas tinham preparado daquele jeito”!
A tia sem conseguir falar, olha de soslaio por entre as pessoas e vê as 3 conversando e fala, “ai meu Deus! E agora”! Saiu de fininho e foi para fora do salão para respirar um pouco e pensar. Encheu o pulmão de ar e entrou para encarar o problema.
Chamou as moças bem sem graça e pediu desculpas, “não era minha intenção magoar, queria penas ajudar”! As donas do bufê a abraçaram e disseram que estavam imensamente gratas. “Como”? Disse a tia. Elas explicaram, “somos marinheiras de primeira viagem. Foi nosso primeiro trabalho, não tínhamos idéia de como fazer, você salvou a festa e ainda nos ensinou a montar um banquete. Muito obrigada”!