domingo, 3 de maio de 2009

O Guarda - Roupa


Doa-se. Era o que estava escrito nos classificados de um jornal. Doa-se um guarda-roupa. De madeira envernizada, quatro portas, espelho embutido. Vão até os cabides!
Ah! Mas não é um guarda-roupa comum! Vou explicar:
Quando nasci, minhas roupas e mantas, minha mãe guardava ali. Uma vez garoto, era bola, brinquedo, livros, uniforme. Tudo junto com as minhas histórias.
Na adolescência, roupas de festas, bailes. Camisas com marcas de batom. Primeiro beijo.
Ao olhar no espelho, com ele minha imagem se fundia. Companheiro.
Meu Deus, vejam só, quando me casei, de presente eu o ganhei. Mãe, são todas iguais.
O dividi com minha esposa, guardei as roupinhas do meu filhinho. Bonés, sapatinhos.
A família cresceu, mas ele estava ali, firme.
Foram anos de convivência amigável, de cumplicidade e segredos.
Podem ficar. Sei, é usado. Mas não vou mais precisar. Já tirei dele meu último terno.
“Texto escrito pelo doador antes de morrer”.

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