quinta-feira, 29 de abril de 2010

Irmão do Pai


Ela era magra, franzina e de cabelos negros e longos que quase alcançavam a cintura. Entrou naquela casa grande olhando por tudo, eram em muitos. Pai, mãe, irmãos maiores e menores, ela beirava os 10 anos. Avô, Tia e ele, o irmão de seu pai. Beirava os quarenta. Inteligente; acima da média, solteirão convicto. Talvez uma companheira aqui outra ali. Do norte, rolaram país abaixo até o sul. Temporariamente, até se instalarem, ficaram ali dividindo o lar com aquelas pessoas, parentes sem intimidade, o que viria depois. Intimidade! Talvez ela nem pudesse usar essa palavra, pois ele, o irmão de seu pai a olhava com um pouco mais do que a tal intimidade familiar, ela não entendia! Sentados para ver TV o dito cujo a espreitava por um canudo feito de jornal com sinais de, “estou te vendo”! Ninguém via, ninguém se importava, era como se estivessem só os dois naquela sala lotada. Então, aquele homem iniciou um assédio corporal que sem entender ela pensava serem coincidências; ombro com ombro, “senta aqui pertinho de mim, você é tão bonitinha”! E a mão boba se espalhava à surdina sobre aquele corpinho indefeso. Aqui e ali, no quarto, na sala, na cozinha e frente e trás de sua inocência. Assustada, “será que lhe causo bem ou mal, não sei! Ele se irrita perto de mim, ele gosta de mim ou eu o incomodo, Será? Ninguém fala nada, ninguém me defende ou me explica”. “Vai lá LH faça com ela o que não posso“, gritava ele ao trancá-la com seu primo em um quarto para seu “bel” prazer! Chorando os dois berravam assustados. No quarto dos fundos ela passava roupas meio sem jeito, se lançou para cima dela derrubando-a na cama de casal que lá havia. Aos berros foi salva pela tia que com seu próprio cinto lhe deu uma surra. Ao longo de ano e meio que lá esteve só ela sabia; até mudarem e sua vida se tornar confusa e sem saber o que realmente se passara naquela estadia e com aquela indesejável demonstração de “amor” ao qual vivenciou. Pensando estar livre, suas visitas o deixava irritado; estava fora de seu alcance! “Tia, a senhora está a í? Vô, o senhor está aí?” Sem resposta se embrenhava casa adentro pensando estar só. Era truque. Ela não estava só; atormentava-a até ela conseguir escapar e de novo esperar o tempo amenizar sua angustia. Namorando, casada, com filhos, perfeitos! Com cartazes nas mãos a deixava crer que eles não o seriam se não o fossem com ele. Se afastou de vez! Como? Não! Quase ninguém soube; as famílias não admitem, e na maioria das vezes não tomam nenhuma providência. Lamentável Vergonha!? O tempo é implacável. Doente, no hospital, a pediram a misericórdia de visitá-lo. “Vem aqui dar um abraço! Pegue minha mão”, pediu ele. Teve pena. Um infeliz que de incesto a tio!? Desconfiada toucou suas mãos, mãos que juntamente com ele se foram logo depois daquele último encontro. Hoje ela é feliz e liberta; Ele!? Está nas mãos de Deus, o irmão de seu pai.

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