sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Uma fazenda de Chita


Dona Benê era uma senhora distinta, esposa fiel, mãe presente, dona de casa empenhada. Trazia tudo sob controle. Ótima cozinheira; sua cozinha era um brinco, enfeitada. Pingüim em cima da geladeira, eletrodomésticos com vestes. Hábito, década de 50. Época da páscoa. Religiosa, queria ir à igreja no domingo com seus 7 filhos nos “trinques”, vestidos com elegância. Foi à loja de tecidos e pediu várias fazendas de panos bons para calças, bermudas, camisas, vestido. No acerto de contas se lembrou que precisava vestir sua nova tábua de passar roupas. Pediu uma fazenda de chita, pano barato de algodão estampado. No caso, azul e amarelo. Ao fechar a conta notou uma senhora simples a olhar a chita em suas mãos, “acho que apreciou o tecido”, pensou D. Benê saindo da loja. Duas semanas depois a fiel esposa, mãe devotada vai celebrar a ressurreição de Cristo com toda a tropa. Entra na igreja, Matriz, enche um banco! Minutos antes de começar a cerimônia, entra uma senhora e seu marido que chamou atenção de todos. Sentaram no banco da frente, e também o encheu com 7 meninas, todas impecáveis, rigorosas e igualmente vestidas, inclusive o vestido da mãe e a camisa do pai, com roupas do mesmo pano, chita azul e amarelo. Não tinha como não olhar, era suigêneres. Ou se vê agora ou não terá outra oportunidade. Ao observar a cena que tantos admiravam, D. Benê reconheceu a mãe das garotas e o tecido. Era o próprio, o mesmo ao qual havia vestido a tábua de passar roupas. Provavelmente pelo preço, comprou a peça toda. “Sabe que ficou simpático!” pensou ela. Ao final, como uma família de patinhos que seguem a pata mãe, todos iguais, em uma fila, sem o patinho feio, claro, foram embora seguindo seus genitores. Uma atrás da outra. Lindo de se ver pela elegância e postura da bela e diferente família que formavam.

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