sábado, 3 de outubro de 2009

O advogado


No silêncio, vê e revê os processos e anotações feitas. Não quer errar. Testemunhas de acusação e defesa ouvidas. Sua mente repassa sem cessar as conclusões finais. Lá fora a chuva cai e respinga o vidro cortando-lhe a seqüência da revisão. “É tarde” pensa ele. Convicto e confiante, dorme.
É hora. “Todos em pé”, ordena o meirinho. O juiz toma seu lugar. E tudo recomeça como dia após dia. O promotor faz sua declaração. A “vítima” teve seu fim. O réu está em suas mãos, a defesa, o advogado.
Suspense. Ele começa: “No aconchego do lar“, olha para os jurados. “Imaginem, está a família, trocando fatos do dia. Alguém entra quebrando o vidro e o sagrado. Ao invadir, rende a todos, rouba, machuca. Fere os sentimentos e o orgulho. Com pensamentos em conflito pela gravidade da situação. O pai, o marido, em um relance de oportunidade, sai em defesa da honra. Pega um revolver, e jaz um corpo no chão. O meliante não desferiu ninguém com arma, mas atingiu o coração daquele homem”. Aponta para o réu. “Ao tirar sua privacidade”. Silêncio.
“Sem mais, lhes pergunto: o que fariam?” Vai se sentar finalizando.
A mãe da “vítima” chora. A do réu ora. Todos esperam. O resultado vem. E de novo, todos em pé. A sentença é lida: “consideramos legítima defesa, inocente”. Ouvem-se gritos de dor e alegria.
Ele, satisfeito pensa: “a justiça do homem foi feita, como será a de
Deus?”

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